martes, 31 de julio de 2007

La posesión del vacío




Como un pájaro migratorio perdido
Que contempla extrañado el inmenso azul tenebroso
Camino desligado de los juramentos de la fortuna
Hacia el invulnerable destino soterrar mis amores
En las capas mórbidas de la tierra de exilio
Ruidos de osamentas lágrimas de dolor
Gritos de espanto y canciones fúnebres
Por el camino solitario de mi oscuro viaje
Por el país de la eternidad. La luna horrible
Me lanza una mirada indolente y temblorosa
Cuando se desliza en mí la esperanza como un veneno

(Kama Kamanda. Luebo, Congo Democrático, 1952)

martes, 24 de julio de 2007

CUÉNTAME


Cuéntame
La palabra del Griot
Que canta el Africa
De los tiempos inmemoriales
Él habla
De esos pacientes reyes
Sobre las cimas del silencio
Y de la belleza de los viejos
Con abatidas sonrisas
El pasado rememorado
Desde el fondo de mi memoria
Como una serpiente tótem
Enredada a mis tobillos
Mi soledad
Y mis esperanzas rotas
Qué daré a mis hijos
Si he perdido sus almas?
(Véronique Tadjo. Costa de Marfil)

domingo, 22 de julio de 2007

TESTAMENTO PARA O DIA CLARO


Quando do fundo da noite vier o eco da última palavra submissa
E a patina do tempo cobrir a moldura do herói derradeiro,
Quando o fumo do último ovo de cianeto
Se dissipar na atmosfera de gases rarefeitos
E a chama da vela da esperança
Se acender em sol na madrugada do novo dia

Quando só restar na franja da memória
Lapidada pelo buril dos tempos ácidos
A estria da amargura inconsequente
E a palavra da boca dos profetas
Não ricochetear no muro do concreto
Da negrura sem fundo de um poço submerso
Sejais vós ao menos infância renovada da minha vida
A colher uma a uma as pétalas dispersas
Da grinalda dos sonhos interditos.

Arnaldo França (poeta cabo verdiano)

jueves, 19 de julio de 2007

Tus manos


Tus manos
Tus manos llamean
Bailan y ondulan
Llamas de lumbre de leña
Tus manos crepitan
Bailan y suben
Iluminan
El espacio abierto e infinito
Bailan en la inmensidad
De la noche
Destellos de lumbre de leña
Ellas suben
Fuegos fatuos
Ellas caminan
Fuego del día
Ellas abrazan
La tierra el agua
El cielo entero
Fuego del día y de la noche
Tus manos corren vuelan
Sobrevuelan el mapa brumoso
Que flamea y se ilumina
Tus manos alumbran la vida
Tus manos matan la muerte...

(Tonella Boni. Abiyán, Costa de Marfil, 1954)

Premio Excelência

Apesar de novata nestas lides da blogosfera, foi-me outorgado por Ecos e Comentarios, o Prémio “Blog ‘momentUS de Excelência”: Como foi dito noutros lugares: Este prémio se atribui pelas palavras, pela música, pelas reflexões, pelas imagens, pelos desafios, pela solidariedade, pela vida partilhada[…] Este MomentUs de Excelência, atribuirei a alguns desses meus queridos (as) amigos (as), que de uma forma ou de outra me proporcionaram belos momentos de Excelência, alguns deles são:





sábado, 14 de julio de 2007

NOITE AFRICANA


NOITE
Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares,
perdidas em mistérios.
Há cantos de tungurúluas pelos ares!
Noites africanas endoidadas,
Onde o barulhento frenesi das batucadas,
Põe tremores nas folhas dos cajueiros.

Noites africanas tenebrosas,
Povoadas de fantasmas e de medos,
Povoadas das histórias de feiticeiros
Que as amas-secas pretas contavam aos meninos brancos.
E os meninos brancos cresceram, e esqueceram as histórias.
Por isso as noites são tristes.
Endoidadas, tenebrosas, langorosas, mas tristes
Como o rosto gretado, e sulcado de rugas, das velhas pretas
Como o olhar cansado dos colonos,
Como a solidão das terras enormes mas desabitadas.
É que os meninos brancos, esqueceram as histórias,
Com que as amas-secas pretas os adormeciam,
Nas longas noites africanas.
Os meninos-brancos esqueceram!

(Alda Lara)

viernes, 13 de julio de 2007

Pensamentos


Deveriam fecharnos na felicidade sem nos darem as chaves.

--------

O amor livre é só para alguns presos.

---------

O frio da solidão pode vir de mãos muito apaixonadas


(Némer Ibn el Barud)


lunes, 9 de julio de 2007

"NÃO MATARAS"!

"Não Matarás"! As outras formas não as imaginou Deus.

Nemer Ibn El Barud

sábado, 7 de julio de 2007

ONDA


Hoje queria ser onda,

Bater na areia com força,

Desfazer-me em espuma branca.

viernes, 6 de julio de 2007

Viagem na noite longa


Na noite longa
Minha alma
Chora sua fome de séculos.

Meus olhos crescem
E choram famintos de eternidade
Até serem duas estrelas
Brilhantes no céu imenso.

E o infinito se detém em mim.

Na noite longa
Uma remotíssima nostalgia
Ajuda a minha alma
E eu choro marítimas lágrimas
Enquanto no meu desejo heróico
De engolir os céus
Se alarga e já cai.

Tenho então
A sensação esparsamente longa
De vogar no absoluto.

Mário Fonseca (poeta e escritor cabo-verdiano)

martes, 3 de julio de 2007

Conciencia


La voz humana nunca podrá cubrir la misma distancia

que la pequeña y silenciosa voz de la conciencia.


(Gandhi)

lunes, 2 de julio de 2007

Diferença


A mulher deve fitar o seu desenvolvimento pessoal,
e a sua dignidade em função dos recursos da sua feminilidade.
Ser igual não significa ser idêntico.
A noção de igualdade é uma noção ética,
é uma exigência moral que nasce da existência das diferenças.
Mas é na diferença que se funda a própria noção de igualdade.

Albertine Tshibilondi Ngoyi

domingo, 1 de julio de 2007

Um grande músico desconhecido, Joseph de Saint-George, chamado "O Mozart preto"



Hoje vou deixar aqui uma postagem sobre um grande músico preto, Joseph de Bologne, conhecido como Chevalier de Saint-George. (A música que se está a ouvir é um trecho do quarteto de cordas escrito por este grande músico). Espero ter despertado a vossa curiosidade sobre este personagem e que tenham vontade de descobrir a sua música.

Saint-George (1745 – 1799) foi uma personalidade fora do comum no mundo da música clássica. Foi um músico e compositor de talento, um dos melhores esgrimistas de Europa e um coronel heróico da Revolução Francesa.
Joseph, era filho de George de Bologne de Saint-George, um rico fazendeiro das Antilhas e de Anne, uma jovem escrava de 17 anos nascida na ilha de Gaudeloupe.
O pai de Joseph dá-lhe uma educação digna de qualquer filho de fidalgo. Ensina-lhe música e esgrima.
Em 1753 a família volta para França onde o pai toma posse do cargo de gentil-homem da câmara do rei.
Em 1756 Joseph é admitido na academia de esgrima, um colégio de elite, onde os alunos assistem a cursos de matemáticas, história, línguas, música, desenho e dança. Sempre com o problema cada ano de não voltar a ser admitido, devido ao racismo que impera em França.
Foi graças às influências do pai, que Joseph pode continuar os seus estudos e também entrar na Academia Real de Música do Rei.
Em 1776, tem que abandonar a academia, onde o designaram director, devido a uma petição de umas cantoras que diziam que "A sua honra e a delicadeza da sua consciência não lhes permitiam estar submetidas às ordens de um mulato".
Esta petição põe fim às aspirações de Saint-George para ser director desta grande instituição, a mais prestigiosa de França.

Entre tanto novas medidas raciais são tomadas em França, chegando-se a proibir os casamentos inter-raciais.

Saint-George vai ser chamado para dirigir o teatro da marquesa de Montesson, esposa de Louis Philippe, duque d'Orléans.
Aí representa a sua primeira comédia musical, Ernestine, para a qual só escreve a música.
Ao longo da sua vida compõe uma sonata para flauta e harpa, várias sinfonias, concertos para violino e quartetos para cordas. Ele e Gossec estão entre os melhores compositores franceses de quartetos para cordas.

Algumas vezes deu-se a este músico o nome de "Mozart preto", um nome que rechaça Dominique René de Lerma, especialista das obras de Joseph de Bologne e professor no departamento de música da Lawrence University, Wisconsin.
"Porque não fazer total abstracção das considerações sobre a cor da pele? Devido que Saint Georges teve uma influência sobre a música de Mozart, e porque não se chamou o Mozart o "Saint-George Branco?".

Na Revolução francesa, permitem-lhe conduzir uma brigada de africanos, conhecida como a Legião Saint-George.
Um dos chefes de esquadrão desta companhia ia ilustrar-se mais tarde nos exércitos da Revolução: Alexandre Dumas, cujo filho foi o célebre escritor e autor dos "Três Mosqueteiros". O pai, o General Dumas, nascido em Jérémie na ilha de Saint Dominique, como Saint George, era filho de uma escrava preta, Césette Dumas e de um nobre arruinado, o marquês de Davy de la Pailleterie, proprietário de uma modesta fazenda.

RACISMO E ESCRAVIDÃO

Voltaire, filósofo do "Século das Luzes" escrevia: "Os africanos e os seus descendentes são geneticamente inferiores aos europeus brancos".
Noutro momento, depois da representação da Ópera "La fille du Garçon", a maioria dos jornais incensam Saint-George e a sua música e não a letra de Antoine Eve. O barão Melchior, influenciado pelas ideias racistas de Voltaire põe em dúvida o talento inovador de Joseph, dizendo que "toca bastante bem o violino, mas não tem espírito criativo, já que seria contrário à natureza que o tivesse. Esta obra é certamente a melhor do Sr. Saint-George, mas também aparece desprovida de invenção. Isto recorda uma observação que ainda não se pode desmentir, e é que se a natureza serviu de um modo particular os mulatos dando-lhes uma grande capacidade para exercer todas as artes de imitação, não lhes deu esse ímpeto do sentimento e do talento que produz ideias novas e criações originais".

A Convenção abole a escravatura nas colónias francesas em 1794.
O ideal de igualdade para o qual Saint-George e os seus voluntários pretos combateram é rapidamente ignorado. Napoleão Bonaparte envia as suas tropas a Guadeloupe e Saint Domingue para restabelecer a escravidão.
Todos os que se consideravam como homens livres sublevam-se, mas a 28 de Maio de 1802 são vencidos e executados.
A abolição da escravidão só será efectiva em 1848.
No entanto, os africanos que vivem em França são descriminados. A 29 de Maio um decreto oficial afasta todos os oficiais pretos e mulatos do exército, o que põe fim à brilhante carreira do general Alexandre Dumas.

É de deplorar que os "manuais de história" digam tão pouco do Chevalier de Saint-George ou do milhão de escravos deportados para as Antilhas francesas, enquanto o Sr. Voltaire é honrado como um dos mais brilhantes humanistas e Napoleão como o mais glorioso homem de Estado.

Saint-George foi ainda o primeiro franco-mação preto de França, iniciado na loja do Grande Oriente de França "Loja das Nove Irmãs".