miércoles, 15 de agosto de 2007

Mané Fú


Mané Fú
Louco que povoou a minha infância
Que contava histórias maravilhosas
Histórias de Branca Flor
De bruxas e de princesas
Mané Fú
Mané de Deus
Que tinha o corpo todo preto
Mas as palmas das mãos brancas
Porque as sextas-feiras subia aos céus
E ia banhar os anjos
Mané Fú
Mané de Deus
Outras histórias me empolgam hoje
Histórias de crianças famintas
(Lembro-me do filho da Violante
Que comia a cal das paredes)
Histórias de velhos abandonados
(Como aquele que morreu a chorar
No Pavilhão de Alienados
E não era doido)
Histórias de prostitutas
(Ah! humilhadas amigas)
Histórias tristes nunca divulgadas
Virgílio Pires (poeta de Cabo Verde)

8 comentarios:

ANTONIO DELGADO dijo...

bonita forma de trazer à memória vidas e anima-las na imaginação dos demais. Quantos Mané Fu transportamos em poemas que não escrevemos,mas no entanto ouvimos no silencio o sussurrar de muitas vozes recordando-nos ausencias.

Doux Bisou.

Ema Pires dijo...

Olá António,
Obrigada pelo teu bonito comentário.
Efectivamente, levamos dentro de nós muitos momentos de poesia que às vezes só ficam em nós porque nao sabemos partilhá-los, ou nao queremos, por serem muito íntimos.
Fico mais animada para continuar a pôr coisas no meu blogue.
Beijinhos

avelaneiraflorida dijo...

Querida Ema!!!!!!

Que bom voltar a encontrar estas coisas LINDISSIMAS ...mas sobretudo verdadeiramente SENTIDAS!

Emocionei-me com este poema...porque tantos Mané Fú nos rodeiam e não vemos as suas asas, nem sequer ouvimos as histórias maravilhosas que nos querem contar!!!!
E que nós não queremos ter tempo para ouvir!!!!!
BEM VINDA!!!!
E "Brigados" por este post!!!!!!
Bjks

Ema Pires dijo...

Bem vinda querida Avelaneira,
É verdade que estamos num mundo de imagens que é o que impacta mais. Esquecemos ouvir as palavras, que sao as que falam directamente ao nosso coraçao. Obrigadissima pela visita.
Beijinhos

papagueno dijo...

Há sempre alguém mais velho a contar belas histórias e lendas, recordo-me do meu avô.
Um lindo poema, obrigado.
Beijinhos

Ema Pires dijo...

Amigo Papagueno,
Eu lembro-me das histórias que contava o meu pai sobre a sua Ilha do Fogo. Fartava-mos de rir com a maioria delas. Era mesme um grande narrador como a maioria das pessoas da sua geraçao. Agora parece que ninguém sabe contar hitórias.
Beijinhos

Gasolina dijo...

Agora sim!

A minha Amiga de Fogo em toda a sua plenitude a "encher-me" o peito de belas palavras!


Poema brutal, carnal de dor, e colorido como sempre.

Obrigado por teres voltado, Ema!
Que saudades!

Um beijo.

Ps. Obrigado pela força, Amiga!

Ema Pires dijo...

Obrigada a ti também pelas tuas palavras que sempre vao directamente ao coraçao. É um sol.
Beijinhos